Caros Leitores,
Uma equipe de astrónomos usou o instrumento SPHERE montado no Very Large
Telescope do ESO para obter imagens do primeiro planeta alguma vez encontrado
numa órbita extensa num sistema triplo de estrelas. Esperava-se que a órbita de
um tal planeta fosse instável, resultando muito provavelmente num planeta que
seria rapidamente ejetado para fora do sistema. No entanto, este planeta tem
sobrevivido. Esta observação inesperada sugere que tais sistemas possam ser
efectivamente mais comuns do que o que se pensava anteriormente. Estes
resultados serão publicados online a 7 de julho de 2016 na revista Science.
Tatooine, o planeta natal de Luke Skywalker da saga da Guerra das Estrelas, era um mundo estranho com dois sóis no céu, no entanto os astrónomos acabam de descobrir um planeta num sistema ainda mais exótico, onde um observador desfrutaria ou de um dia constante, isto é, sem noite, ou de triplos nasceres e pores de sol todos os dias, dependendo das estações, estações estas que neste planeta duram mais que uma vida humana.
Este mundo foi descoberto por uma equipa de astrónomos liderada pela
Universidade do Arizona, no EUA, através de imagens diretas obtidas pelo Very Large Telescope do
ESO (VLT), no Chile. O planeta, chamado HD 131399Ab [1] não é como nenhum
outro mundo conhecido — a sua órbita em torno da estrela mais brilhante das
três é a maior conhecida num sistema estelar múltiplo. Tais órbitas são
frequentemente instáveis, devido à atração gravitacional, complexa e variável,
das outras duas estrelas do sistema, e por isso pensava-se que seria muito
improvável existirem planetas em órbitas estáveis nestas condições.
“Durante cerca de metade da órbita do planeta — que no total tem uma duração de
550 anos terrestres — as três estrelas estão visíveis no céu; as duas mais
ténues encontram-se sempre muito juntas, variando a sua separação aparente
relativamente à estrela mais brilhante ao longo do ano,” acrescenta Kevin
Wagner, o primeiro autor do artigo e descobridor da HD 131399Ab [2].
Neste cenário, o planeta HD 131399Ab desloca-se em torno da estrela A numa
órbita com um raio de cerca de 80 UA, o que corresponde a cerca de duas vezes a
órbita de Plutão no Sistema Solar, trazendo o planeta até cerca de um terço da
separação entre a estrela A e o par B/C. Os autores apontam para a
possibilidade de uma de variedade de cenários orbitais, sendo que o veredicto
para a estabilidade a longo prazo do sistema terá que esperar pelas observações
de seguimento planeadas que irão limitar melhor a órbita do planeta.
“Se o planeta estivesse mais afastado da estrela mais massiva, seria certamente
lançado para fora do sistema, “explica Apai. “As nossas simulações de
computador mostraram que este tipo de órbita pode ser estável, mas se variarmos
os parâmetros apenas um bocadinho, o sistema torna-se instável muito
rapidamente.”
Notas
Informações adicionais
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a
investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais
produtivo do mundo. O ESO é financiado por 16 países: Alemanha, Áustria,
Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália,
Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, assim como
pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO destaca-se por levar a cabo um
programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de
observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos
importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na
promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém
em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e
Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o
observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de
rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no
infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido
exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é um parceiro principal no
ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones,
próximo do Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope
(E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.
Links
- Fotografias do
Situado a cerca de 320 anos-luz de distância
da Terra na constelação do Centauro, o HD 131399Ab tem
cerca de 16 milhões de anos de idade, o que o torna igualmente num dos
exoplanetas mais jovens descobertos até à data, e um dos muito poucos a
serem diretamente fotografados. Com uma temperatura de 580 graus Celsius e uma
massa estimada de cerca de quatro vezes a massa de Júpiter, este exoplaneta é
também um dos mais frios e menos massivos a ter sido diretamente fotografado.
“O HD 131399Ab é um dos poucos exoplanetas
que foram diretamente fotografados, tratando-se do primeiro a ser encontrado
numa configuração dinâmica tão interessante,” disse Daniel Apai, da
Universidade do Arizona, EUA, e um dos co-autores do novo artigo científico que
descreve estes resultados.
Kevin Wagner, estudante de doutoramento da
Universidade do Arizona, identificou o planeta no meio de centenas de
candidatos e liderou as observações de seguimento para verificar a sua natureza.
O planeta marca também a primeira descoberta
de um exoplaneta com o auxílio do instrumento SPHERE montado
no VLT. O SPHERE é sensível à radiação infravermelha, o que lhe permite
detectar assinaturas térmicas de planetas jovens. Ao mesmo tempo possui
sofisticadas características que corrigem distúrbios atmosféricos e bloqueiam a
luz das estrelas hospedeiras que, de outro modo, seria ofuscante.
Apesar
de serem necessárias observações de repetição e de longo termo para determinar
de forma precisa a trajectória do planeta no seio das suas estrelas
hospedeiras, observações e simulações parecem sugerir o seguinte cenário:
estima-se que a estrela mais brilhante seja 80 % mais massiva que o nosso Sol
(chamada HD 131399A) e que esteja a ser orbitada pelas duas estrelas menos
massivas, B e C, a cerca de 300 UA (sendo que 1 UA corresponde à distância
entre a Terra e o Sol). Ao mesmo tempo, as estrelas B e C rodopiam em torno uma
da outra, como se fossem um haltere, separadas por uma distância de
aproximadamente a distância que separa o Sol de Saturno (10 UA).
Planetas em sistemas de estrelas múltiplas
têm um interesse especial para os astrónomos e cientistas planetários porque
mostram como funciona a formação planetária em cenários muito extremos. Apesar
dos sistemas de estrelas múltiplas nos parecerem exóticos, uma vez que a nossa
órbita se faz em torno de uma estrela solitária, o certo é que os sistemas de
estrelas múltiplas são tão comuns como as estrelas individuais.
“Não é claro perceber como é que este planeta
acabou por ficar retido numa órbita tão extensa neste sistema extremo e não
podemos ainda dizer o que é que este facto poderá significar para a compreensão
dos tipos de sistemas planetários, no entanto mostra que existe mais variedade
do que julgávamos possível,” conclui Kevin Wagner. “O que sabemos é que
planetas em sistema de estrelas múltiplas têm sido muito pouco estudados, mas
são potencialmente tão numerosos como planetas em sistemas de estrelas únicas.”
[2] Durante a maior parte do ano do planeta,
as estrelas apareceriam próximas no céu, dando-lhe um familiar lado diurno e
lado noturno, com um único nascer e pôr de sol triplo diário. À medida que o
planeta se desloca na sua órbita, as estrelas vão-se afastando de dia para dia,
até chegarem ao ponto em que o pôr de uma coincide com o nascer de outra —
altura em que o planeta terá um dia praticamente constante, com ausência de
noite, o que aconteceria durante cerca de um quarto da sua órbita, ou seja,
cerca de 140 anos terrestres.
Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “Direct
Imaging Discovery of a Jovian Exoplanet Within a Triple Star System”, de K.
Wagner et al., que será publicado online a 7 de julho de 2016 na revista
Science.
A equipe é composta por Kevin Wagner (Steward
Observatory, The University of Arizona, Tucson, Arizona, EUA), Dániel Apai
(Steward Observatory and Lunar and Planetary Laboratory, The University of
Arizona, Tucson, Arizona, EUA), Markus Kasper (ESO, Garching, Alemanha),
Kaitlin Kratter (Steward Observatory, The University of Arizona, Tucson,
Arizona, EUA), Melissa McClure (ESO, Garching, Alemanha), Massimo Robberto
(Space Telescope Science Institute, Baltimore, Maryland, EUA) e Jean-Luc Beuzit
(Université Grenoble Alpes, Institut de Planétologie et d’Astrophysique de
Grenoble, Grenoble, França; Centre National de la Recherche Scientifique,
Institut de Planétologie et d’Astrophysique de Grenoble, Grenoble, França).
Fonte:
ESO – Observatório Europeu do Sul – 7 de julho de 2016
HélioR.M.Cabral (Economista,
Escritor e Pesquisador Independente na Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia e
Climatologia).
Membro da Society for
Science and the Public (SSP) e assinante de conteúdos científicos da NASA
(National Aeronautics and Space Administration) e ESA (European Space Agency).
Participa do projeto S`Cool Ground Observation
(Observações de Nuvens) que é integrado ao Projeto CERES (Clouds and Earth´s
Radiant Energy System) administrado pela NASA.
Participa também do projeto The Globe Program / NASA
Globe Cloud, um Programa de Ciência e Educação Worldwide, que também tem o
objetivo de monitorar o Clima em toda a Terra. Este projeto é patrocinado pela
NASA e National Science Fundation (NSF), e apoiado pela National Oceanic and
Atmospheric Administration (NOAA) e U.S Department of State.
e-mail: heliocabral@coseno.com.br
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