Caros Leitores,
Campanha Pontos Vermelhos descobre claras evidências da existência de
um exoplaneta em órbita da estrela individual mais próxima do Sol.
Imagem artística
A estrela individual mais próxima do
Sol alberga um exoplaneta com pelo menos 3,2 massas terrestres — um exoplaneta
do tipo super-Terra. Uma das maiores campanhas de observação, que usou dados de
uma grande quantidade de telescópios e instrumentos, incluindo o instrumento
caçador de planetas HARPS do ESO, revelou este mundo gelado e fracamente
iluminado.
O planeta recém descoberto, é o
segundo exoplaneta conhecido mais perto da Terra, sendo a Estrela de Barnard a
estrela que mais depressa se desloca no céu noturno.
Foi detectado um planeta em órbita da Estrela de Barnard, a uns meros 6
anos-luz de distância da Terra. Esta descoberta — anunciada num artigo
publicado hoje na revista Nature —
é o resultado das campanhas Pontos Vermelhos e CARMENES,
cuja busca de planetas rochosos próximos revelou já um novo mundo em órbita da nossa vizinha mais
próxima, a Proxima Centauri.
O planeta, designado Estrela de Barnard b, ocupa o
lugar de segundo exoplaneta conhecido mais próximo da Terra. Os dados coletados
indicam que o planeta pode ser uma super-Terra, com uma massa de, pelo menos,
3,2 vezes a massa da Terra, e que orbita a sua estrela hospedeira com um
período de cerca de 233 dias. A Estrela de Barnard é uma anã vermelha, ou seja,
uma estrela fria de pequena massa que ilumina pouco o mundo agora descoberto. A
luz da estrela dá ao seu planeta apenas 2% da energia que a Terra recebe do Sol.
Apesar de se encontrar relativamente perto da sua estrela progenitora — a uma
distância de apenas 0,4 vezes a distância entre a Terra e o Sol — o exoplaneta
situa-se próximo da linha de neve, a região onde compostos voláteis, tais como
a água, podem condensar-se em gelo sólido. Este mundo gelado e sombrio pode ter
uma temperatura de -170º C, o que o tornaria hostil para a vida tal como a
conhecemos.
Buscas anteriores de um planeta em torno da Estrela de Barnard tiveram
resultados decepcionantes — esta descoberta foi agora possível apenas porque se
combinaram medições de diversos instrumentos de alta precisão montados em
telescópios de todo o mundo.
Os astrónomos usam assim este efeito para medir, com uma precisão
extraordinária, as variações na velocidade da estrela devido à existência de um
planeta em sua órbita. O HARPS consegue detectar variações na velocidade de uma
estrela tão pequenas quanto 3,5 km/hora — o que equivale à velocidade de passo
de uma pessoa. Este método de procura de exoplanetas é conhecido por método das
velocidades radiais e, até agora, nunca tinha sido usado para detectar um exoplaneta do tipo
super-Terra numa órbita tão extensa em torno da sua estrela.
Retirando o seu nome do astrônomo E. E.
Barnard, a Estrela de Barnard é a estrela individual situada mais próximo do
Sol. Apesar da estrela propriamente dita ser antiga — terá provavelmente o
dobro da idade do Sol — e relativamente inativa, é na realidade a estrela com o
movimento aparente mais rápido de todo o céu noturno. As super-Terras são o
tipo mais comum de planeta que se forma em torno de estrelas de
pequena massa como a Estrela de Barnard, o que dá credibilidade ao recentemente
descoberto candidato a planeta. Adicionalmente, as atuais teorias de formação
planetária preveem que a linha de neve é o local ideal para a formação de tais
planetas.
“Após uma análise cuidada, estamos 99%
confiantes de que o planeta é real,” afirma o cientista líder da
equipe, Ignasi Ribas (Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha e Instituto
de Ciências Espaciais, CSIC, Espanha). “No entanto, continuaremos a observar
esta estrela rápida para excluir possíveis, mas improváveis, variações naturais
do brilho estelar que poderiam ser confundidas com um planeta.”
Entre os instrumentos usados estão os famosos
caçadores de planetas do ESO, os espectrógrafos HARPS e UVES.
“O HARPS desempenhou um papel vital
neste projeto. Combinámos dados de arquivo de outras equipas com medições novas
da Estrela de Barnard obtidas por diferentes infraestruturas,”
comentou Guillem Anglada-Escudé (Queen Mary University of London), cientista
que co-liderou a equipa [4]. “A combinação dos instrumentos foi
crucial para verificarmos o nosso resultado.”
Os astrônomos usaram o efeito Doppler para
encontrar o candidato a exoplaneta. À medida que o planeta orbita a estrela, a
sua atração gravitacional faz com que a estrela oscile ligeiramente. Quando a
estrela se afasta da Terra, o seu espectro desvia-se para o vermelho, ou seja,
desloca-se para os maiores comprimentos de onda. Do mesmo modo, quando a
estrela se aproxima da Terra, a sua luz é desviada para os comprimentos de onda
menores, mais azuis.
“Usámos observações de sete
instrumentos diferentes, correspondentes a 20 anos de medições, o que faz desta
a maior e mais extensa base de dados alguma vez utilizada no estudo de
velocidades radiais muito precisas,” explica Ribas. “A
combinação de todos os dados levou a 771 medições no total — uma quantidade de
informação enorme!”
“Trabalhámos muito para chegar a este resultado,” conclui
Anglada-Escudé. “Esta descoberta é o resultado de uma extensa colaboração
levada a cabo no âmbito do projeto Pontos Vermelhos, que incluiu contribuições
de equipas de todo o mundo. Estamos já a proceder a observações de seguimento
em vários observatórios.”
Notas
[2] A
velocidade total da Estrela de Barnard relativamente ao Sol é de cerca de 500
000 km/h. Apesar de ser muito rápida, esta não é no entanto a estrela mais
rápida conhecida. O que torna o movimento de uma estrela digna de nota é o quão
rápido esta parece mover-se no céu noturno vista a partir da Terra, o chamado
movimento aparente. A Estrela de Barnard cobre uma distância equivalente ao
diâmetro da Lua no céu em 180 anos — embora este valor possa não parecer
muito elevado é, sem dúvida, o movimento aparente mais rápido de todas as
estrelas que observamos no céu.
evidências
claras de um planeta a orbitar a estrela mais próxima da Terra
deste sistema, Proxima Centauri. O planeta encontra-se a apenas pouco mais de 4
anos-luz de distância da Terra e foi descoberto por uma equipa liderada por
Guillem Anglada-Escudé. [1]
As estrelas mais próximas do Sol constituem o sistema estelar triplo de Alfa
Centauri. Em 2016, os astrónomos usaram os telescópios do ESO e outras
infraestruturas para descobrir
[3]
As infraestruturas usadas neste trabalho foram: o HARPS montado no telescópio de
3,6 metros do ESO; o UVES montado no VLT do ESO; o HARPS-N montado no Telescopio Nazionale Galileo; o HIRES instalado no telescópio Keck de 10 metros; o PFS instalado no Carnegie’s
Magellan 6.5-m telescope; o APF montado
no telescópio de
2,4 m do Lick Observatory; e o CARMENES colocado
no Observatório de
Calar Alto. Adicionalmente, foram feitas observações com
o telescópio de 90 cm instalado no Observatório da Sierra Nevada, o
telescópio robótico de 40 cm colocado no observatório SPACEOBS, e o Telescópio Joan Oró do Observatório Astronómico de Montsec
(OAdM) de 80 cm.
eso1837pt — Nota de Imprensa Científica - 14
de Novembro de 2018
Fonte:
ESO – European Southern Observatory
HélioR.M.Cabral (Economista,
Escritor e Pesquisador Independente na Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia e
Climatologia).
Membro da Society for
Science and the Public (SSP) e assinante de conteúdos científicos da NASA
(National Aeronautics and Space Administration) e ESA (European Space Agency).
do projeto S`Cool Ground Observation
(Observações de Nuvens) que é integrado ao Projeto CERES (Clouds and Earth´s
Radiant Energy System) administrado pela NASA.
Participa também do projeto The Globe Program / NASA
Globe Cloud, um Programa de Ciência e Educação Worldwide, que também tem o
objetivo de monitorar o Clima em toda a Terra. Este projeto é patrocinado pela
NASA e National Science Fundation (NSF), e apoiado pela National Oceanic and
Atmospheric Administration (NOAA) e U.S Department of State.
e-mail: heliocabral@coseno.com.br
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