Quem sou eu

Minha foto
Sou economista, escritor e divulgador de conteúdos sobre economia e pesquisas científicas em geral.

Projeto do Edifício de Gravidade Artificial-The Glass-Para Habitação na Lua e Marte

Asteroide Bennu contêm os blocos de construção da Vida

Sonda Parker: O Sistema Solar Visto de Perto do Sol

Conceito Elevador Espacial

2º vídeo sobre o Conceito do Elevador Espacial

Hubble da NASA rastreia a história oculta da galáxia de Andrômeda

Botão Twitter Seguir

Translate

terça-feira, 16 de setembro de 2025

NASA Encontra Pistas do Ouro Mais Antigo do Universo

Caro(a) Leitor(a);




De onde vem o ouro que adorna nossas joias, a platina que catalisa reações industriais ou o urânio que alimenta reatores nucleares? Olhamos para as estrelas em busca de respostas sobre a vastidão do cosmos, mas muitas vezes esquecemos que os próprios átomos que compõem nosso planeta e até mesmo nossos corpos foram forjados em eventos cósmicos de proporções inimagináveis. A origem dos elementos químicos mais pesados que o ferro, como esses exemplos preciosos e potentes, representa um dos grandes e persistentes enigmas da astrofísica moderna. Por mais de meio século, cientistas têm vasculhado o Universo em busca das forjas cósmicas capazes de realizar essa alquimia extrema.

Sabemos que as estrelas comuns, como o nosso Sol, são verdadeiras usinas nucleares, fundindo hidrogênio em hélio e, em estágios posteriores de estrelas mais massivas, criando elementos como carbono, oxigênio e até ferro. No entanto, a fusão nuclear convencional encontra uma barreira energética no ferro; criar elementos ainda mais pesados exige um processo diferente, muito mais energético e exótico. Entra em cena o processo de captura rápida de nêutrons, ou simplesmente processo-r. Imagine um núcleo atômico sendo bombardeado por um fluxo incrivelmente denso e rápido de nêutrons. O núcleo absorve esses nêutrons antes que tenha tempo de decair radioativamente, inflando-se rapidamente e tornando-se instável. Subsequentemente, através de uma cascata de decaimentos beta (onde um nêutron se transforma em um próton), esses núcleos super-ricos em nêutrons se convertem nos elementos pesados e estáveis que conhecemos. Esse mecanismo, contudo, exige condições físicas extremas: temperaturas altíssimas e, crucialmente, uma densidade de nêutrons quase inconcebível. Onde, no vasto Universo, poderiam existir ambientes tão infernais?

A busca por esses “sítios” do processo-r tem sido uma jornada fascinante. Por muito tempo, as explosões de supernovas – o fim cataclísmico de estrelas massivas – foram consideradas as principais candidatas. Mais recentemente, a detecção de ondas gravitacionais e luz da fusão de duas estrelas de nêutrons em 2017 (o famoso evento GW170817) forneceu a primeira evidência direta e espetacular de que essas colisões cósmicas são, de fato, poderosas fábricas de elementos do processo-r, produzindo uma “kilonova” rica em ouro e platina.

Mas a história pode não terminar aí. Um novo estudo, publicado na prestigiosa revista The Astrophysical Journal Letters por Anirudh Patel e colaboradores, traz à tona um protagonista inesperado e ainda mais extremo nesse drama cósmico: os magnetares. Essas não são estrelas de nêutrons comuns – já objetos incrivelmente densos, remanescentes da morte de estrelas gigantes. Os magnetares são uma classe especial, possuindo os campos magnéticos mais fortes conhecidos no Universo, trilhões de vezes mais intensos que o campo magnético terrestre. Essa energia magnética colossal pode, ocasionalmente, ser liberada em explosões de raios X e raios gama de violência estarrecedora, conhecidas como “flares gigantes”.

Em 27 de dezembro de 2004, um desses eventos abalou a nossa galáxia. O magnetar SGR 1806–20, localizado a cerca de 50.000 anos-luz de distância, irrompeu em uma explosão gigantesca, liberando em uma fração de segundo mais energia do que o Sol emite em centenas de milhares de anos. Foi um dos eventos mais energéticos já registrados dentro da Via Láctea. Mas, além do brilho ofuscante inicial, algo intrigante foi observado nos minutos e horas seguintes: uma emissão persistente de raios gama de alta energia (na faixa de Mega elétron-volts, ou MeV), cujo brilho aumentou, atingiu um pico cerca de 10 minutos após a explosão inicial e depois decaiu lentamente. A origem desse “eco” energético permaneceu um mistério por quase duas décadas.

Agora, Patel e sua equipe apresentam uma solução convincente para esse enigma, conectando diretamente essa emissão MeV atrasada à produção de elementos pesados pelo processo-r. Eles demonstram que as propriedades detalhadas dessa emissão – sua evolução temporal (curva de luz), sua energia total (fluência) e sua distribuição de energia (espectro) – correspondem precisamente ao que seria esperado do decaimento radioativo de núcleos recém-sintetizados pelo processo-r, ejetados durante a explosão do magnetar. Essa correspondência fornece a primeira evidência observacional direta de que as explosões gigantes de magnetares são, de fato, um novo sítio confirmado para a nucleossíntese do processo-r no Universo.

Neste artigo, mergulharemos nesta descoberta fascinante. Exploraremos em mais detalhes o que é o processo-r e por que ele é tão crucial para a nossa existência. Investigaremos a natureza exótica dos magnetares e suas explosões titânicas. Revisitaremos o evento histórico de 2004 do SGR 1806–20 e o sinal misterioso que ele deixou para trás. Finalmente, desvendaremos como a nova pesquisa conecta todos esses pontos, revelando os magnetares como inesperadas fábricas cósmicas de ouro e outros elementos pesados, e discutiremos as profundas implicações dessa descoberta para a nossa compreensão da evolução química do universo.

  1. A Forja Cósmica: Entendendo o Processo-r

Para compreendermos a magnitude da descoberta sobre os magnetares, precisamos primeiro mergulhar no fascinante mundo da nucleossíntese, o processo cósmico responsável pela criação de todos os núcleos atômicos que compõem a matéria que conhecemos. Logo após o Big Bang, o universo era uma sopa quente e densa de partículas fundamentais. Nos primeiros minutos, enquanto o Universo se expandia e esfriava, prótons e nêutrons se uniram para formar os núcleos mais leves: hidrogênio (principalmente seu isótopo mais comum, o prótio), hélio e uma quantidade ínfima de lítio. Esse evento primordial é conhecido como a Nucleossíntese do Big Bang.

Mas de onde vieram todos os outros elementos da tabela periódica, do carbono em nossos corpos ao silício nas rochas e ao ferro no núcleo da Terra? A resposta está nas estrelas. No coração escaldante das estrelas, a gravidade comprime a matéria a densidades e temperaturas tão extremas que os núcleos atômicos podem superar sua repulsão elétrica natural e se fundir, liberando enormes quantidades de energia. Esse processo, a fusão nuclear estelar, é o motor que faz as estrelas brilharem. Começa com a fusão de hidrogênio em hélio (o processo dominante na maior parte da vida de uma estrela como o Sol). Em estrelas mais massivas e em estágios posteriores da evolução estelar, o hélio pode se fundir para formar carbono, o carbono pode gerar oxigênio, neônio, e assim por diante, em uma sequência que pode chegar até a produção de ferro e níquel. Essa “queima” nuclear progressiva cria a maioria dos elementos leves e intermediários que encontramos no Universo.

Contudo, a fusão nuclear tem um limite. A criação de núcleos mais pesados que o ferro e o níquel não libera energia; pelo contrário, consome. A estrutura desses núcleos é tal que a fusão se torna energeticamente desfavorável. Isso levanta uma questão crucial: se a fusão estelar para no ferro, como o Universo produziu elementos tão pesados e conhecidos como prata, ouro, chumbo, platina e urânio? A resposta reside em mecanismos de nucleossíntese que operam sob condições ainda mais extremas, geralmente associadas a eventos cósmicos violentos. Os principais mecanismos envolvem a captura de nêutrons.

Como os nêutrons não possuem carga elétrica, eles não sofrem repulsão ao se aproximarem de um núcleo atômico carregado positivamente. Se houver nêutrons livres disponíveis, eles podem ser capturados por núcleos preexistentes. Existem dois regimes principais para esse processo:

  1. Processo-s (captura lenta de nêutrons): Ocorre principalmente em estrelas de massa intermediária em fases avançadas de sua evolução (gigantes vermelhas no ramo assintótico). Nesse cenário, o fluxo de nêutrons é relativamente baixo. Um núcleo captura um nêutron, e geralmente tem tempo suficiente para sofrer um decaimento beta (onde um nêutron se transforma em um próton, emitindo um elétron e um antineutrino) antes de capturar o próximo nêutron. Esse processo “lento” e gradual constrói elementos pesados ao longo de milhares de anos, seguindo um caminho próximo ao vale de estabilidade nuclear na carta de nuclídeos. O processo-s é responsável por cerca de metade da abundância dos elementos mais pesados que o ferro.
  2. Processo-r (captura rápida de nêutrons): Este é o processo que nos interessa particularmente aqui. Ele ocorre em ambientes onde o fluxo de nêutrons é extraordinariamente alto – tão alto que um núcleo pode capturar múltiplos nêutrons em uma sucessão muito rápida, antes que tenha qualquer chance de sofrer decaimento beta. Isso empurra os núcleos para longe do vale de estabilidade, criando isótopos extremamente ricos em nêutrons e muito instáveis. Somente quando o fluxo intenso de nêutrons cessa é que esses núcleos instáveis começam a decair de volta em direção à estabilidade através de uma cascata de decaimentos beta, “preenchendo” a tabela periódica com os isótopos mais pesados e ricos em nêutrons, incluindo todo o urânio e tório encontrados na natureza, e uma porção significativa de elementos como ouro e platina.

As condições necessárias para o processo-r são verdadeiramente extremas: temperaturas de bilhões de graus Celsius e densidades de nêutrons que desafiam a imaginação. Por décadas, a identificação dos locais astrofísicos exatos onde essas condições são alcançadas foi um desafio monumental. As explosões de supernovas de colapso de núcleo foram as primeiras candidatas, pois liberam enormes quantidades de energia e nêutrons. No entanto, modelos detalhados mostraram dificuldades em reproduzir consistentemente as condições necessárias e as abundâncias observadas dos elementos do processo-r.

A grande virada veio em 2017 com a observação histórica da fusão de duas estrelas de nêutrons, GW170817. A detecção simultânea de ondas gravitacionais e de uma explosão eletromagnética (uma kilonova) confirmou que essas colisões violentas ejetam grandes quantidades de matéria rica em nêutrons, fornecendo um ambiente ideal para o processo-r ocorrer em larga escala. Hoje, acredita-se que as fusões de estrelas de nêutrons sejam uma fonte dominante, talvez a principal, dos elementos do processo-r no Universo.

No entanto, a história cósmica da criação de elementos pesados pode ser ainda mais rica e complexa. A pesquisa de Patel et al. (2025) sugere que outro tipo de evento extremo, as explosões gigantes de magnetares, também pode ser uma forja significativa para o processo-r, adicionando uma nova peça crucial a este quebra-cabeça cósmico.

Para saber mais, acesse o link>

Fonte: Space Today

https://spacetoday.com.br/nasa-encontra-pistas-do-ouro-mais-antigo-do-universo/#google_vignette


Web Science Academy; Hélio R.M.Cabral (Economista, Escritor e Divulgador de conteúdos de Economia, Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia Climatologia). Participou do curso Astrofísica Geral no nível Georges Lemaître (EAD), concluído em 2020, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Em outubro de 2014, ingressou no projeto S'Cool Ground Observation, que integra o Projeto CERES (Clouds and Earth’s Radiant Energy System) administrado pela NASA. Posteriormente, em setembro de 2016, passou a participar do The Globe Program / NASA Globe Cloud, um programa mundial de ciência e educação com foco no monitoramento do clima terrestre.

>Autor de cinco livros, que estão sendo vendidos nas livrarias Amazon, Book Mundo e outras

Livraria> https://www.orionbook.com.br/

Page: http://econo-economia.blogspot.com

Page: http://pesqciencias.blogspot.com.br

Page: http://livroseducacionais.blogspot.com.br

e-mail: heliocabral@econo.ecn.br

e-mail: heliocabral@coseno.com.br





Nenhum comentário:

Postar um comentário