Quem sou eu

Minha foto
Sou economista, escritor e divulgador de conteúdos sobre economia e pesquisas científicas em geral.

Projeto do Edifício de Gravidade Artificial-The Glass-Para Habitação na Lua e Marte

Asteroide Bennu contêm os blocos de construção da Vida

Sonda Parker: O Sistema Solar Visto de Perto do Sol

Conceito Elevador Espacial

2º vídeo sobre o Conceito do Elevador Espacial

Hubble da NASA rastreia a história oculta da galáxia de Andrômeda

Botão Twitter Seguir

Translate

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Corrida espacial 2.0: lucro em órbita

Caro(a) Leitor(a);

 







Durante décadas, o setor espacial foi dominado por missões governamentais ambiciosas, mas economicamente insustentáveis, movidas mais pela política e pela geopolítica do que por fundamentos econômicos. Hoje, esse cenário mudou radicalmente. Assim como os investimentos em tecnologias militares historicamente geraram benefícios colaterais em setores civis como o GPS, a internet e os sensores avançados, os avanços em tecnologia espacial estão impactando diretamente áreas como telecomunicações, agricultura, logística, clima, defesa e mineração. O espaço, antes uma aposta de longo prazo, agora é um vetor claro de crescimento econômico de curto e médio prazo, impulsionado por modelos de negócio escaláveis, tecnologia madura e um novo apetite dos investidores.

Tecnologia espacial: receita antes da ficção

Em 2024, os investimentos em tecnologia espacial atingiram US$ 9,1 bilhões, uma leve queda em relação aos US$ 9,6 bilhões de 2023, mas altamente representativa dada a elevação global das taxas de juros e o ambiente de maior seletividade de capital. O destaque não está apenas no volume, mas na qualidade da alocação de recursos. Pela primeira vez, as rodadas de VC em estágio de crescimento e final superaram as de seed e pré-seed, com 41 e 162 transações, respectivamente. Isso mostra uma mudança de paradigma: o mercado deixou de privilegiar "visões futuristas" e passou a apostar em empresas que já geram receita e escalam soluções viáveis.

As categorias com maior captação em 2024 foram:

• Comunicações via satélite: US$ 2,3 bilhões (sem variação em relação a 2023)

• Inteligência geoespacial: US$ 1 bilhão (+25% YoY)

• Infraestrutura de lançamento: US$ 1,6 bilhão (-37,4% YoY)

Enquanto os foguetes perderam atratividade como ativo financeiro, os serviços baseados em dados e conectividade passaram a ser o novo “core business” da economia espacial.

O Fim do espaço especulativo

A era do capital de risco descontrolado no setor espacial ficou para trás. Os investidores, agora, buscam ativos com receita previsível, escalabilidade técnica e integração com cadeias de suprimento terrestres.

Entre os segmentos em alta estão:

• Logística orbital e gerenciamento de detritos espaciais: US$ 166,5 milhões captados pela D-Orbit em sua rodada Série C em 2024

• Estações em órbita baixa (LEO): mais de US$ 165 milhões em aportes no programa CLD (Commercial LEO Destinations) da NASA

• Monitoramento da Terra: destaque para a Planet Labs e sua expansão em análise agrícola e ambiental baseada em IA

• Conectividade 5G via satélite: empresas como AST SpaceMobile vêm ganhando força com promessas de cobertura direta entre satélite e smartphones

De missões heroicas à sustentabilidade comercial

A narrativa da exploração espacial sempre foi moldada por marcos históricos — do pouso na Lua em 1969 às ambições atuais de colonizar Marte. No entanto, o foco hoje está menos em conquistas simbólicas e mais em viabilidade comercial. A iniciativa Artemis, da NASA, busca uma presença sustentável na Lua, enquanto empresas privadas como a SpaceX apostam no desenvolvimento de sistemas reutilizáveis e de baixo custo para viabilizar a colonização interplanetária. O foguete Starship, capaz de transportar cargas equivalentes a dois caminhões semirreboque, promete revolucionar a logística espacial, reduzindo o custo por quilograma para menos de US$ 200. Ainda assim, desafios técnicos e janelas de lançamento escassas — especialmente para Marte, impõem pressão e riscos significativos.

Após um período morno para IPOs, o setor voltou a ver exits relevantes em 2024, que totalizaram US$ 1,4 bilhão puxados por operações de M&A e a expectativa de abertura de capital de Voyager Space e Karman Space & Defense em 2025. Esses movimentos podem destravar novas ondas de liquidez no setor e reacender o interesse de investidores institucionais.

A SpaceX continua sendo a força dominante: realizou 263 dos 312 lançamentos globais em 2024 (95% dos lançamentos nos EUA), com destaque para os foguetes reutilizáveis Falcon 9 e Starship. Este último, em especial, é considerado a chave para a redução drástica dos custos de lançamento para menos de US$ 200/kg, contra médias de US$ 3.000–5.000/kg nas missões tradicionais.

Mas o domínio da SpaceX está longe de ser incontestado. A Força Espacial dos EUA, por meio do programa National Security Space Launch (NSSL) – Fase 3, está financiando alternativas como:

• Blue Origin, com seu foguete New Glenn

• Rocket Lab, cuja valorização em 2024 foi de +353,1%, apoiada por uma carteira de pedidos de US$ 396 milhões

Essas movimentações evidenciam uma tendência clara de diversificação de provedores espaciais para garantir resiliência e soberania operacional em um contexto geopolítico volátil.

Lua vs. Marte: Investimento em infraestrutura espacial

Enquanto o capital flui para aplicações comerciais de curto prazo, a infraestrutura para exploração espacial profunda segue avançando com apoio público e privado. A diferença entre a Lua e Marte como destinos estratégicos está diretamente ligada a aspectos logísticos e econômicos:

Fator

Lua

Marte

Distância da Terra

384.400 km (~3 dias)

225 milhões de km (~9 meses)

Gravidade

1/6 da Terra

1/3 da Terra

Janela de lançamento

Frequente

A cada 26 meses

Água disponível

Polos congelados

Calotas polares e subterrânea

Potencial energético

Solar abundante

Solar e eólico

Atmosfera

Praticamente nula

CO₂ (95%) e uso em propulsão

Reabastecimento terrestre

Relativamente fácil

Altamente complexo

A Lua é vista como ponto estratégico para:

• Testes de infraestrutura de habitação espacial

• Mineração de Hélio-3 e metais raros

• Plataforma de lançamento para missões mais distantes

Marte, por outro lado, é a visão de longo prazo. A SpaceX planeja seu primeiro voo não tripulado ao planeta em 2026, e a NASA contratou a empresa para realizar o próximo pouso na Lua em 2027.

Perspectivas: o espaço como plataforma econômica global

O espaço está se consolidando como um ecossistema de negócios integrado à economia terrestre, com aplicações comerciais, militares e ambientais. Entre os principais motores dessa transformação, destacam-se:

• Digitalização e conectividade global: satélites LEO são essenciais para cobertura em áreas remotas

• Segurança e defesa: comunicação segura, monitoramento de ameaças e infraestrutura autônoma

• Mudança climática: observação da Terra para rastrear desmatamento, poluição e eventos extremos

• Mineração espacial: perspectiva de extração de recursos com implicações industriais estratégicas

Os analistas preveem que a economia espacial global pode ultrapassar US$ 1 trilhão até 2040, com CAGR (taxa de crescimento anual composta) estimada em 6,3% ao ano, segundo o Morgan Stanley.

Geopolítica, diversificação e o espaço como ativo estratégico

A dominação da SpaceX nos lançamentos (95% nos EUA em 2024) ilustra a força dos sistemas reutilizáveis e da parceria com o governo norte-americano. No entanto, o setor caminha para uma economia multipolar. O contrato da Fase 3 do National Security Space Launch já aponta para diversificação, favorecendo novas entrantes como Rocket Lab e Blue Origin. A valorização de 353% das ações da Rocket Lab em 2024 evidencia como os mercados premiam soluções viáveis e alternativas robustas à hegemonia da SpaceX.

Além dos EUA, outros blocos também se movimentam. Europa, China e Rússia intensificam programas espaciais próprios, impulsionando a demanda por satélites, serviços de mapeamento, comunicação segura e autonomia em infraestrutura espacial. O espaço tornou-se, portanto, não apenas uma fronteira tecnológica, mas uma peça-chave em estratégias de soberania nacional, resiliência de cadeias de suprimento e monitoramento ambiental.

Conclusão

A tecnologia espacial está passando de um paradigma de exploração para um modelo de expansão econômica. O setor se consolida como um novo eixo estratégico da inovação, com impacto direto em telecomunicações, agricultura, logística, defesa, sustentabilidade e muito mais. À medida que investidores priorizam modelos escaláveis e de receita recorrente, o espaço deixa de ser apenas um campo de experimentação tecnológica para se tornar um ambiente econômico tangível, dinâmico e competitivo.

Os avanços em Marte e na Lua ainda cativam o imaginário coletivo, mas a verdadeira revolução espacial está acontecendo aqui mesmo, na órbita da Terra - onde dados, infraestrutura e serviços já são realidade e movimentam bilhões. Para investidores atentos, trata-se menos de uma aposta futurista e mais de uma decisão estratégica: investir no espaço é, cada vez mais, investir no presente da inovação global.

Fontes:

Emerging Tech Research, Vertical Snapshot: Space Tech - Pitchbook

Reportlinker.com © Copyright 2025. All rights reserved.

Nota: este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.

Para saber mais, acesse o link>

Fonte: Blog Itaú  /  PorItaú BBA  / Publicação 13/06/2025

https://blog.itau.com.br/ibba/corrida-espacial-2-0-lucro-em-orbita

Web Science AcademyHélio R.M.Cabral (Economista, Escritor e Divulgador de conteúdos de Economia, Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia Climatologia). Participou do curso Astrofísica Geral no nível Georges Lemaître (EAD), concluído em 2020, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


Em outubro de 2014, ingressou no projeto S'Cool Ground Observation, que integra o Projeto CERES (Clouds and Earth’s Radiant Energy System) administrado pela NASA. Posteriormente, em setembro de 2016, passou a participar do The Globe Program / NASA Globe Cloud, um programa mundial de ciência e educação com foco no monitoramento do clima terrestre.

>Autor de cinco livros, que estão sendo vendidos nas livrarias Amazon, Book Mundo e outras

Livraria> https://www.orionbook.com.br/

Page: http://econo-economia.blogspot.com

Page: http://pesqciencias.blogspot.com.br

Page: http://livroseducacionais.blogspot.com.br

e-mail: heliocabral@econo.ecn.br

e-mail: heliocabral@coseno.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário