Caros Leitores,
O trabalho de pesquisa foi
feito pela Universidade de Wisconsin-Madison e é mais uma evidência científica
da influência antropogênica na alteração do clima do Planeta.
Em uma
semana crucial para as negociações do Acordo de Paris na cidade polonesa de
Katowice, um estudo divulgado na revista Proceedings of the National Academy of
Sciences (Pnas) indica que, em dois séculos, a atividade humana reverteu uma
tendência de resfriamento do globo iniciada há 50 milhões de anos. O trabalho,
da Universidade de Wisconsin-Madison, é mais uma evidência científica da
influência antropogênica na alteração do clima do planeta.
O artigo foi publicado dois dias depois de Estados Unidos, Kwait, Rússia e
Arábia Saudita desferirem um golpe contra o tratado internacional discutido na
Conferência do Clima, que visa frear o aquecimento da atmosfera. Os quatro
países vetaram citações ao relatório mais recente do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) no “livro
de regras”, o manual de operações do Acordo de Paris. Com isso, fica de fora a
menção à necessidade de não se ultrapassar um aumento de 1,5ºC na temperatura
até 2050, meta considerada fundamental para a redução das emissões de gases de
efeito estufa.
“Se pensarmos no futuro em termos do passado, o local para onde estamos indo é
um território inóspito para a sociedade humana”, afirma Burke, professor de
geografia na instituição e primeiro autor do artigo. “Estamos nos direcionando
para mudanças muito dramáticas em um espaço de tempo extremamente rápido,
revertendo um padrão de esfriamento planetário em questão de séculos”, alerta.
Ele lembra que todas as espécies que vivem hoje na Terra tiveram um ancestral
que sobreviveu ao Eoceno e ao Plioceno, mas não se sabe se os seres humanos, a
flora e a fauna atuais poderão se adaptar às rápidas alterações vivenciadas hoje.
“A taxa acelerada de mudanças parece ser mais rápida do que qualquer coisa que
a vida no planeta já viveu”, diz o especialista.
Projeções
No Eoceno, os continentes estavam muito mais próximos e as temperaturas globais
eram, em média, 13ºC mais altas do que as registradas hoje. Os dinossauros
tinham sido extintos havia pouco tempo, enquanto os primeiros mamíferos, como
os ancestrais de baleias e cavalos, espalhavam-se pelo globo. O Ártico era
ocupado por florestas pantanosas. Já no Plioceno, quando as Américas do Sul e
do Norte encontravam-se unidas por placas tectônicas, o clima era árido e havia
muitas pontes de terra que permitiram aos animais se espalharem. Naquela época,
o Himalaia se formou. As temperaturas eram entre 1,8ºC e 3,6ºC maiores,
comparadas ao presente.
Enquanto
isso, pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison indicam que, sem
diminuir o lançamento de CO2 equivalente para a atmosfera, em 2030, o clima do
planeta voltará mais de 3 milhões de anos no tempo geológico, com a Terra se
parecendo ao que era no Plioceno Médio. Já em 2150, o modelo desenvolvido pelos
paleogeógrafos Kevin Burke e John Williams preconiza uma viagem ainda mais
distante no tempo. Se nada for feito para reduzir as emissões, o clima poderá
ser tão quente e praticamente sem cobertura de gelo quanto era no Eoceno, há 50
milhões de anos.
O artigo publicado ontem remonta a um trabalho de Williams de
2007, no qual se comparou as projeções climáticas futuras a dados históricos do
início do século 20. A nova pesquisa tem objetivo semelhante, mas faz um
mergulho muito maior no tempo geológico e expande as comparações. “Podemos usar
o passado como um critério para entender o futuro, que é tão diferente de
qualquer coisa que tenhamos experimentado em nossas vidas”, assinala Williams,
em nota. “As pessoas têm dificuldade para projetar como será o mundo daqui a
cinco ou 10 anos. Essa é uma ferramenta para prever isso”, explica.
No estudo, os pesquisadores da Universidade de
Wisconsin-Madison, com colaboração de colegas das universidades de Bristol, Columbia
e Leeds, além do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa e do Centro
Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, examinaram as semelhanças entre as
projeções climáticas futuras feitas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) e vários períodos da história geológica. Isso incluiu o
Eoceno precoce, o Plioceno médio, o último período Interglacial (129 mil a 116
mil anos atrás), o Holoceno médio (6 mil anos atrás), a era pré-industrial
(antes de 1850) e o início do século 20.
IPCC
Os cientistas utilizaram um cenário desenhado pelo IPCC, o
Padrão de Concentração Representativa 8,5, que significa um cenário climático
futuro no qual não se conseguiu mitigar as emissões de gases de efeito estufa.
Também aplicaram o padrão RPCP 4,5, que prevê um mundo com reduções moderadas
das emissões. Esses dados foram jogados em três diferentes modelos bem
estabelecidos pela ciência.
Sob ambos os cenários, e em cada modelo testado, o clima da
Terra assemelhou-se ao do Plioceno médio (considerando o RCP 8,5) em 2030 ou em
2040 (sob o padrão RCP 4,5). Caso haja estabilizações das emissões, o clima se
manterá nas condições de 3 milhões de anos. Do contrário, começará a se
assemelhar ao planeta de 50 milhões de anos atrás por volta de 2100, atingindo
o ápice de calor em 2150. Os modelos indicam que as alterações começarão pelos
centros dos continentes, se expandindo ao longo do tempo. A temperatura
aumentará, as calotas polares derreterão, e os polos Sul e Norte se
transformarão em regiões temperadas.
Outra constatação do estudo é que, sob o cenário RCP 8,5,
condições geológicas desconhecidas ocorrerão em 9% do globo, concentradas no
sudeste asiático, no nordeste da Austrália e no litoral das Américas. “Nos
cerca de 20 a 25 anos que tenho trabalhado em campo, passamos de esperar que a
mudança climática acontecesse para detectar os efeitos, e agora, investigamos
os danos causados. As pessoas estão morrendo, estamos vendo incêndios
intensificados e aumento no número de tempestades, que podem ser atribuídos à
mudança climática”, diz John Williams. “Vimos grandes coisas acontecerem na
história da Terra: novas espécies evoluíram, a vida persiste e espécies
sobrevivem. Mas muitas serão perdidas e nós vivemos nesse planeta. São coisas
com o que se preocupar, e esse trabalho nos aponta como podemos usar nossa
história e a história da Terra para entender as mudanças e a melhor forma de
nos preparar para elas.”
Fonte: Universidade de Wisconsin-Madison / Kevin Burke, paleogeógrafo e professor.
HélioR.M.Cabral (Economista,
Escritor e Pesquisador Independente na Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia e
Climatologia).
Membro da Society for
Science and the Public (SSP) e assinante de conteúdos científicos da NASA
(National Aeronautics and Space Administration) e ESA (European Space Agency).
Participa do projeto S`Cool Ground Observation
(Observações de Nuvens) que é integrado ao Projeto CERES (Clouds and Earth´s
Radiant Energy System) administrado pela NASA.
Participa também do projeto The Globe Program / NASA
Globe Cloud, um Programa de Ciência e Educação Worldwide, que também tem o
objetivo de monitorar o Clima em toda a Terra. Este projeto é patrocinado pela
NASA e National Science Fundation (NSF), e apoiado pela National Oceanic and
Atmospheric Administration (NOAA) e U.S Department of State.
e-mail: heliocabral@coseno.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário