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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Primeira luz do SPECULOOS

Caros Leitores,

Quatro telescópios dedicados à procura de planetas habitáveis situados em órbita de estrelas próximas ultrafrias começam a operar de forma bem sucedida no Observatório do Paranal do ESO – 1º de dezembro de 2018







O projeto SPECULOOS fez as suas primeiras observações no Observatório do Paranal do ESO, no norte do Chile. O foco do SPECULOOS é a detecção de planetas do tamanho da Terra que orbitam estrelas ultra-frias e anãs marrons próximas.
SPECULOOS Southern Observatory (SSO, Observatório do Sul SPECULOOS) foi instalado com sucesso no Observatório do Paranal e obteve as suas primeiras imagens de engenharia e calibração — um processo conhecido por primeira luz. Quando terminar esta fase de comissionamento, esta nova rede de telescópios caçadores de planetas irá começar as operações científicas, o que se prevê que aconteça a partir de Janeiro de 2019.

O SSO é a infraestrutura principal de um novo projeto de procura de exoplanetas chamado SPECULOOS (Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars) [1] e é constituído por quatro telescópios equipados com espelhos primários de 1 metro. Os telescópios — chamados Io, Europa, Ganímedes e Calisto, como os quatro satélites galileanos de Júpiter — tirarão o máximo partido das excelentes condições de observação do Paranal, local que também acolhe a infraestrutura emblemática do ESO, o Very Large Telescope (VLT). O Paranal é um local quase perfeito para a astronomia, apresentando céus escuros e um clima árido e estável.


Estes telescópios têm uma enorme tarefa pela frente — a procura de planetas do tamanho da Terra potencialmente habitáveis, situados em órbita de estrelas ultrafrias ou anãs marrons, cujas populações planetárias estão ainda praticamente inexploradas. Apenas se encontraram alguns exoplanetas em torno de tais estrelas e menos ainda situados na zona de habitabilidade da respectiva estrela progenitora. Apesar de serem difíceis de observar, estas estrelas tênues são bastante abundantes — cerca de 15% das estrelas do Universo próximo. O SPECULOOS foi concebido para explorar 1000 destas estrelas, incluindo as mais próximas, mais brilhantes e menores, na busca de planetas habitáveis do tamanho da Terra.


O SPECULOOS irá proporcionar uma capacidade sem precedentes de detectar planetas do tipo terrestre a eclipsar algumas das nossas vizinhas estelares menores e mais frias,” explica Michaël Gillon da Universidade de Liège, Bélgica, pesquisador principal do projeto SPECULOOS. “Trata-se de uma oportunidade única para descobrir todos os pormenores destes mundos próximos.


O SPECULOOS irá procurar exoplanetas pelo método dos trânsitos [2], seguindo o exemplo do seu telescópio protótipo TRAPPIST-South instalado no Observatório de La Silla do ESO. Este telescópio encontra-se em operação desde 2011 e detectou o famoso sistema planetário TRAPPIST-1. Quando um planeta passa pela frente da sua estrela, bloqueia uma pequena parte da emissão estelar — dando essencialmente origem a um pequeno eclipse parcial — o que resulta numa diminuição sutil, mas detectável, da luz da estrela. Os exoplanetas com estrelas hospedeiras mais pequenas bloqueiam mais quantidade de emissão estelar durante o trânsito, fazendo com que estes eclipses periódicos sejam mais fáceis de detectar do que os associados a estrelas maiores.


Até agora, apenas uma pequena fração dos exoplanetas detectados por este método possuem um tamanho semelhante ou inferior ao da Terra. No entanto, o pequeno tamanho das estrelas alvo do SPECULOOS combinado com a elevada sensibilidade dos telescópios permitirá detectar planetas em trânsito de tamanho terrestre situados nas zonas de habitabilidade das estrelas. Estes planetas serão os candidatos ideiais para observações de seguimento a serem executadas por grandes telescópios, situados tanto no solo como no espaço.


Os telescópios estão equipados com câmeras extremamente sensíveis no infravermelho próximo,” explica Laetitia Delrez do Cavendish Laboratory, Cambridge, Reino Unido, co-pesquisadora da equipe SPECULOOS. “Esta luz situa-se um pouco para além do que o olho humano consegue detectar e é a luz principal emitida pelas estrelas tênues que o SPECULOOS irá observar.


Os telescópios e as seus suportes coloridos foram construídos pela companhia alemã ASTELCO, encontrando-se protegidos por cúpulas fabricados pela empresa italiana Gambato. O projeto terá o apoio dos dois telescópios TRAPPIST de 60 cm, um instalado no Observatório de La Silla do ESO e o outro em Marrocos [3]. O projeto irá também incluir o SPECULOOS Northern Observatory e o SAINT-Ex, os quais estão atualmente a ser construídos em Tenerife, Espanha, e em San Pedro Mártir, México, respectivamente.


Há também potencial para uma futura colaboração com o Extremely Large Telescope (ELT), o futuro telescópio emblemático do ESO, atualmente em construção no Cerro Armazones, no Chile. O ELT será capaz de observar planetas detectados pelo SPECULOOS com um detalhe sem precedentes — e talvez até analisar as suas atmosferas.


Estes novos telescópios irão permitir pesquisar mundos do tipo da Terra no Universo próximo com mais detalhe do que o que poderíamos imaginar há apenas dez anos atrás,” conclui Gillon. “Estamos a entrar numa época fantástica para a ciência dos exoplanetas.


Notas:

[1] Speculoos, ou speculaas, é um biscoito de especiarias (como a canela, noz moscada, cravinho, gengibre, entre outros) tradicionalmente confeccionado na Bélgica e outros países para o dia de São Nicolau, celebrado a 6 de Dezembro. O nome, com a sua doce conotação, reflete a origem belga do projeto SPECULOOS. O projeto TRAPPIST tem também o mesmo tipo de nome belga — refere as cervejas Trappist, a maioria das quais são produzidas na Bélgica.

[2] O método dos trânsitos é um dos vários métodos utilizados para descobrir exoplanetas. Uma variedade de instrumentos, incluindo o espectrógrafo HARPS do ESO, instalado no Observatório de La Silla, usa o método das velocidades radiais para detectar exoplanetas, medindo as variações na velocidade de uma estrela devido à existência de um planeta na sua órbita.


[3] O projeto recebeu também financiamento do Conselho de Pesquisa Europeu no âmbito do 7º Programa Quadro da União Européia, bolsa (FP7/2007-2013)/ERC nº 336480.


O SPECULOOS Southern Observatory (SSO) é um projeto realizado pela Universidade de Liège (Bélgica), o Laboratório Cavendish, Cambridge (RU) e a Universidade Rei Abdulaziz (Arábia Saudita), sob a liderança de Michaël Gillon, investigador e chefe do grupo EXOTIC (EXOplanets in Transit: Identification and Characterization) do Departamento de Astrofísica, Geofísica e Oceanografia (AGO) da Universidade de Liège. O SSO envolve ainda cientistas das  Universidades de Berna, Birmingham e Warwick. O ESO apoia o SSO, acolhendo-o no Observatório do Paranal, no deserto chileno do Atacama.
Universidade Federal de São Carlos
São Carlos, Brazil
Tel.: +551633519797
e-mail: grojas@ufscar.br
SPECULOOS Principal Investigator
University of Liège, Belgium
Tel.: +32 4366 9743
Cel.: +32 473 346 402
e-mail: michael.gillon@uliege.be
SPECULOOS co-Principal Investigator, University of Cambridge
UK
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O ESO é a mais importante organização européia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronômico mais produtivo do mundo. O ESO tem 16 Estados Membros: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, para além do país de acolhimento, o Chile, e a Austrália, um parceiro estratégico. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronômicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrônomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronômica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope e o Interferômetro do Very Large Telescope, o observatório astronômico óptico mais avançado do mundo, para além de dois telescópios de rastreio: o VISTA, que trabalha no infravermelho, e o VLT Survey Telescope, concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é também um parceiro principal em duas infraestruturas situadas no Chajnantor, o APEX e o ALMA, os maiores projetos astronômicos que existem atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o Extremely Large Telescope (ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.
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Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1839, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contato local para a imprensa. O representante brasileiro é Gustavo Rojas, da Universidade Federal de São Carlos. A nota de imprensa foi traduzida por Margarida Serote (Portugal) e adaptada para o português brasileiro por Gustavo Rojas.


Fonte: Observatório Eurpeu do Sul (ESO, no termo em inglês)


HélioR.M.Cabral (Economista, Escritor e Pesquisador Independente na Astronomia, Astrofísica, Astrobiologia e Climatologia).

Membro da Society for Science and the Public (SSP) e assinante de conteúdos científicos da NASA (National Aeronautics and Space Administration) e ESA (European Space Agency).

Participa do projeto S`Cool Ground Observation (Observações de Nuvens) que é integrado ao Projeto CERES (Clouds and Earth´s Radiant Energy System) administrado pela NASA.

Participa também do projeto The Globe Program / NASA Globe Cloud, um Programa de Ciência e Educação Worldwide, que também tem o objetivo de monitorar o Clima em toda a Terra. Este projeto é patrocinado pela NASA e National Science Fundation (NSF), e apoiado pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e U.S Department of State.




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